Com os olhos semiabertos, Sheyenne, de um ano, circula pálido e completamente entregue dentro do sling preto pendurado no tórax da mãe, Maura Madja, de 27 anos. O menino está com diarreia, vômito, febre e tosse há mais de uma semana, mas ainda não recebeu atendimento médico. Uma viagem desconfortável de duas horas e meia em um barco de madeira separam sua casa, na Terra Indígena Alto Rio Purus, no Acre, do posto de saúde mais próximo, na cidade de Santa Rosa do Purus. E a equipe médica que deveria fazer visitas mensais não apareceu pelo segundo mês seguido.
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Na área onde fica a aldeia, a taxa de mortalidade entre crianças menores de um ano é similar à de Uganda. E, nos últimos anos, a situação piorou, uma tendência que se repete na maioria das áreas indígenas brasileiras, apontam dados obtidos pelo EL PAÍS junto ao Ministério da Saúde via Lei de Acesso à Informação. Os registros permitem um retrato detalhado de cada um dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) do Brasil, responsáveis pela saúde de quase 700.000 índios de 5.700 aldeias.