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16 out 2009 - por Admin

Mobilização pela abertura dos arquivos da ditadura

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A festa é para Elzita Santa Cruz. Mãe do desaparecido político Fernando Santa Cruz, ela comemora hoje 96 anos. A data será lembrada com uma missa às 19h, em Jardim Atlântico, bairro de Olinda.

Mas os festejos, como ela sempre faz há 35 anos, transformam-se num ato político para relembrar a perda do filho, visto pela última vez ao lado de Eduardo Collier Filho, em fevereiro de 1974. Desde então, Elzita desdobra-se para descobrir o destino do corpo do filho. "Se resta pouca esperança de que esteja vivo, ao menos me deixem conhecer a história do desaparecimento do meu filho", alega. Ela acredita que pode encontrar respostas nos documentos secretos das Forças Armadas e, por isso, pede ao governo federal que abra os arquivos da ditadura.

Para Elzita, a abertura dos documentos secretos podem preencher lacunas existentes nas histórias dos desaparecimentos políticos no Brasil. "Minha dor não é única, mas um gesto do presidente Lula nesse sentido pode trazer um pouco de alívio", comenta. Ela já pediu pessoalmente aopresidente da República para determinar a abertura dos arquivos militares. O governo contabiliza que ainda existam 140 desaparecidos políticos no país, tendo a maior parte deles sumido na década de 1970. Pernambuco aparece nessa lista com pelo menos 14 nomes. São funcionários públicos, como Fernando Santa Cruz, operários, advogados, jornalistas, militares e estudantes universitários que nasceram ou residiram ou foram perseguidos pela ditadura quando militavam no estado. Eles atuavam em instituições políticas clandestinas como a Ação Popular (AP), a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o Partido Comunista do Brasil (PCB).

Na comemoração de hoje, Elzita estará rodeada de parentes e amigos. Também devem comparecer familiares de desaparecidos políticos, como a secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, Amparo Araújo, que há mais de três décadas tenta descobrir o destino do irmão Luís Almeida de Araújo. "A luta de dona Elzita é também a nossa. Não vamos desistir, pois entendemos que não existe mais sentido em manter os arquivos da ditadura fechados para a sociedade", diz. O argumento de Amparo é compartilhado pelo advogado Marcelo Santa Cruz, um dos nove irmãos de Fernando e que defendeu os familiares de alguns desaparecidos políticos. "A democracia, para ser consolidada no país, tem que se encontrar com o passado. E esse passado inclui a verdade sobre a história dos desaparecidos", defende.

A abertura dos arquivos da ditadura, no entanto divide o governo federal. De um lado, o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucci, defensor da abertura. Por outro, os setores mais próximos aos militares criticam a proposta de disponibilizar para a sociedade todos os dados dos arquivos. Apesar dessa divisão, a secretaria nacional de Direitos Humanos reforça a campanha para esclarecer o destino dos presos e desaparecidos políticos. Desde a última semana de setembro, estão sendo veiculado nas TVs abertas pequenos vídeos sobre o projeto Memórias Reveladas. Uma das estrelas é Elzita. A campanha pode não revelar o destino dos desaparecidos, todavia tem aumentado o número de pessoas que procuram o governo para falar do assunto ou doar arquivos pessoais. Em agosto, 1.992 internautas visitaram o site do projeto. Esse número pulou para 6.221 em setembro e chegou a 10.930 visitas nos primeiros 13 dias de outubro.

Fonte: Correio Braziliense

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